Caso 17 - A árvore de pedra

Eu disse neste Caso 4, sobre arqueologia indígena, que a terra encobre grande parte da história humana.
Neste caso vou além e afirmo que a terra não encobre somente o passado humano, mas o passado de toda forma de vida como fenômeno biológico.
Aparentemente nosso passado não é tão assustador assim, mas esse suposto conhecimento que a Ciência alardeia possuir sobre o passado humano e o passado da vida é apenas parte da realidade oculta à espera das pás e picaretas dos estudiosos de hoje e do futuro. Se o homem existe a alguns milhares de anos ou dois ou três milhões de anos em sua forma mais primitiva, a vida é bem mais antiga e remonta as centenas de milhões de anos, a bilhões de anos. 
Volátil, a matéria que compõe os seres vivos deixa pouca coisa de si após se decompor pela ação dos elementos e de outros seres vivos. Mas todos conhecem os fósseis e sabemos que uma pequena parcela de todo esse longo passado perdura no presente sobre a forma de pedra.
Seres humanos vivem dezenas de anos. São, no entanto, efêmeros diante da escala de tempo geológica. Não é difícil sentir nossa finitude. Basta tomar um pequeno pedregulho no chão e perguntar a quantos anos ele existe para que sintamos o tamanho do abismo de tempo existente entre a matéria viva e a matéria inorgânica. Há afloramentos de solo cuja origem remonta a bilhões de anos. É assustador do ponto de vista psicológico tomar um pedaço de pedra e saber que ele existe a dois bilhões de anos. É muito tempo de existência.
As pedras, no entanto, não são vivas. É fácil durar quando não se tem que lutar para manter-se estruturado e coeso como o fazem os seres vivos. Então, ainda que as pedras sejam muito antigas, damos de ombros diante delas e seguimos em frente com nossas vidas.
Mas então restam os fósseis.
Eles, ainda que sejam objetos raros em relação à vida em si, existem em quantidade abundante. Tais como os raios, que citei no Caso 16, eles são abundantes em seu conjunto, embora raros individualmente. Pessoas comuns no dia a dia não se deparam com fósseis como se fossem um fato corriqueiro da natureza. É preciso estudo e olho treinado para se perceber nos locais adequados a existência de uma rocha que se formou sobre a estrutura de um ser vivo decomposto. 
Eu aprendi pela Bíblia que a humanidade foi criada por Deus e se perpetuou por gerações, mas ainda assim os estudiosos afirmam que se a Bíblia estivesse correta em seu sentido literal, então o primeiro homem, Adão, teria vivido a não mais do que 6 mil anos no passado, ou um pouco mais que isso.
Então viveu a muito tempo, mas a não tanto tempo assim.
Por outro lado, os fósseis contam uma história diferente da Bíblia. As pedras se formam ao longo de milhares, milhões de anos. Um ser vivo, seja animal, seja vegetal, morre e pode ter seu conteúdo biológico, seu corpo, substituído por minerais dependendo das condições nas quais venha a se encontrar quando morrer. Dado que a Ciência já coletou informações razoavelmente seguras sobre o processo de formação das rochas, e coligiu essas informações com os muitos fósseis existentes, presume-se hoje que a cronologia bíblica apresenta-se falha quando interpretada literalmente.
Segundo a Ciência, os fósseis podem remontar a muitos milhões de anos dependendo do ser que foi fossilizado. E por mais que a Bíblia conte uma história magnífica de criação e poder divino, a existência de fósseis conta uma história tão ou mais impressionante.
Narro todas essas considerações sobre o passado da vida na Terra somente para esclarecer que o tema é digno de toda a curiosidade e atenção. Caso ainda reste alguma dúvida quanto à magnanimidade da ocorrência dos fósseis, isso provavelmente deve-se mais à relativa raridade deles do que a qualquer outra coisa. Afinal, há Bíblias aos milhões em todos os lugares, mas nem sempre se pode topar com um animal fossilizado diante de nossos olhos.
Garanto que a experiência de ter um fóssil diante de si é uma experiência impressionante. Eu já a tive.
Esse é o assunto do meu presente caso.
Eu já conhecia a narrativa bíblica da criação cósmica quando vi meu primeiro fóssil. Eu até mesmo já tinha ouvido falar sobre fósseis na escola, embora que superficialmente. Mas ver um deles pessoalmente foi uma experiência definitiva, embora que na época eu não tenha dado tanta atenção assim ao caso.
Eu deveria ter uns dez anos.
Eu o vi em um zoológico. Foi em um desses fins de semana nos quais meus pais nos levava, eu e meus irmãos, para um passeio em uma bela cidade próxima ao nosso vilarejo, que embora bom de se viver, não tinha quase nada de atrativo paras as crianças e adultos fazerem nos fins de semana de descanso e paz.
Eu disse que ver um fóssil pela primeira vez foi importante, mas não marcante no momento em que o vi, e explico o porquê. Evidentemente que eu, um menino com dez anos de idade, estava mais interessado nos diversos outros entretenimentos existentes no pequeno zoológico e sequer imaginava que pudesse haver um fóssil naquele lugar. Estava mais interessado nos animais exóticos, no parque com brinquedos nunca vistos e no passeio de pedalinho no belo lago que circundava o local, além, é óbvio, nas guloseimas e no farto almoço servido no restaurante local. Afinal, não havia como eu saber que havia ali algo tão exótico quanto um fóssil.
Mas havia.
Era um pequeno bloco de pedra branca e lisa em forma de um toco de árvore, uma espécie de palmeira com tronco em forma de ziguezague. Do tamanho de um tamborete, com a altura de uns cinquenta centímetros, liso e branco como um seixo de algum riacho muito tranquilo, o pequeno bloco de pedra somente podia ser identificado como sendo um pedaço de tronco de árvore petrificada devido à pequena plaqueta informativa afixada ao lado dele pelo pessoal da administração do zoológico, que infelizmente não identificou em que local o bloco de pedra fora originalmente localizado. Não sei se o fora na região da cidade ou fora trazido de outra cidade, outro país, outro continente. O tronco ondulado era definitivamente um tipo de palmeira e não uma árvore com o tronco circular. Deveria ter uns quarenta centímetros de diâmetro com ondulações e sulcos de uns cinco centímetros de profundidade.
Deveria ter milhões de anos.
Aquela pedra um dia fora uma árvore.
Um ser vivo que morreu, mas deixou sua forma para a posteridade, um testemunho de pedra cuja forma perpetuou-se de forma única e inconfundível. Aquela forma típica de um ser vivo jamais poderia ter se formado naturalmente pela natureza sem um molde. Ainda que a Terra seja imensa e muito antiga, não há meio de a natureza, regida pelo acaso, ter sido capaz de forjar uma pedra em forma de árvore sem ter de fato preenchido o corpo de uma verdadeira árvore. Seria tão difícil para a natureza formar uma pedra em forma de árvore sem um molde real de uma árvore quanto formar uma pedra na forma de um fusca sem nunca ter existido um fusca na face da Terra. Simplesmente não há meio de processos naturais gerarem formas geológicas que emulem coisas vivas ou coisas criadas pelo homem sem que usem tais coisas como moldes. Se isso fosse possível, então já teríamos achado uma pedra em forma de algo que não se parece com uma pedra. Nossos museus teriam pedras em forma, por exemplo, da letra M, ou pedras em forma de um ícone qualquer da internet ou ainda na forma de um liquidificador. Mas não temos essas pedras naturalmente geradas pela natureza. Esta não inventa pedras com formas ao acaso. A aparentemente banalidade no formato das pedras confirma na verdade a existência de um método formativo tal que impede que a natureza forme pedras de formatos aleatórios. Há evidentemente algum grau de aleatoriedade nas formas das pedras, mas não uma liberdade absoluta de formas. Daí que aquela pedra parecia de fato um pedaço de tronco de árvore e era identificado como tendo sido um que viveu a muitos milhões de anos atrás e não uma mera curiosidade que parecia árvore, mas nunca fora. Pareidolia? Não, segundo quem mandara afixar aquela plaqueta informativa. Falaremos mais sobre pareidolia e fossilização no futuro. No entanto, anote agora apenas isso: a natureza tem limites.
Essa observação carrega em si uma séria implicação de cunho científico e matemático relacionado às leis das probabilidades. Essa observação é profunda, embora que não seja a razão do presente caso. Ela terá a atenção que merece em um outro momento neste blog, porque ela é de fato profunda. Mas não agora. Anote então para ler no futuro neste blog: pareidolia e os limites da natureza.
Agora no entanto quero relacionar o pequeno bloco de pedra a nossa ignorância de leigos.
Aquela pedra era definitivamente algo que, salvo a plaqueta identificando-a entremeio à folhagem junto a uma jaula de um animalzinho qualquer daquele zoológico, poderia facilmente ser tratada apenas como uma pedra bem formada, ou uma pedra com um formato curiosamente diferente das demais pedras comuns, porque como eu disse mais acima, ainda que os fósseis sejam definitivamente diferentes das pedras comuns, não são fácil e imediatamente reconhecidos como tais por olhos não treinados.
Ela poderia ter sido tomada apenas por uma pedra esquisita, algo que definitivamente o é um fóssil visto por alguém não treinado para identificá-lo. Quer dizer, nós, leigos, identificamos que ela é diferente, e que até parece uma árvore, mas não pode ter sido uma árvore, porque árvores não podem virar pedras. Certo? Nós, leigos, nunca vimos nada se transformar em pedras. Então, pedras são pedras e sempre foram pedras, ainda que se pareçam com coisas que não são pedras.
É provável que muita gente tenha olhado para aquela pedra naquele zoológico e duvidado de que ela tenha sido formada sobre o tronco de uma árvore. Certamente muita gente deve ter visto a pedra branca e duvidado da placa informativa. Muitos não teriam visto nela mais que invenção ou mentira. Como poderia alguém garantir que aquilo fora uma árvore sem ter visto pessoalmente a árvore antes desta ter virado pedra? Se fósseis se formam ao longo de milhões de anos, como alguém pode ter tanta certeza de que isso é verdade se nenhum ser humano pode viver milhões de anos para acompanhar a formação da pedra sobre o ser, sobre a árvore que se fossiliza? O cético pode duvidar de tudo, afinal de contas.
Qual é o limite do cético?
Não sei. Mas também o ceticismo é motivo de toda a nossa consideração e atenção.
Mas não darei agora ao cético o espaço que não é dele.
Voltemos à pedra, ao zoológico e à ignorância dos leigos.
O tempo passou depois daquele dia.
O zoológico foi fechado alguns anos depois. Era um local belo, mas muito pequeno e portanto inadequado para o correto cuidado a ser dispensado aos pobres animais que ali viviam. Não sei o que foi feito da pedra que um dia fora uma árvore. Talvez ainda esteja lá. Talvez não. Talvez tenha sido levada para um local mais visível para melhor informar a sociedade de sua rara existência. Ou ainda, é possível que tenha sido roubada, destruída por alguma escavadeira ou jogada na caçamba de algum caminhão de entulho e descartada como lixo. Quem sabe?
Afinal, até as pedras podem morrer um dia.
Afinal, a ignorância não conhece limites.
E você?
Já viu algum fóssil? Já achou um deles pessoalmente no meio do mato, no lodo de um rio, na terra úmida de algum barranco nas montanhas?
Conte-nos.
Ficaremos, nós, leitores deste blog, muito felizes em conhecer sua experiência.

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