Caso 55 - Adventismo

 Caso 55 - Adventismo


Já disse no Caso 8 sobre meu relacionamento inicial com a religião cristã e a leitura da Bíblia. O presente caso, que você lê agora, é uma continuação do tema, mas mais detalhado e específico.

Como eu disse no Caso 8, eu lia a Bíblia, mas apenas com a mentalidade ingênua de um menino. Trechos dela eram lidos em folhetos nas missas da igrejinha do vilarejo onde eu morava, mas sem nenhuma explicação do significado deles. Eram trechos que faziam sentido apenas para os adultos supostamente versados nos temas bíblicos, mas não para crianças e adolescentes sem orientação teológica. Creio que nem mesmo os adultos os entendiam bem.

Mas então por volta de 1981 ou 1982, não me recordo bem, eu tive uma nova professora de matemática dando aulas às tardes na escolinha onde eu e meus irmãos estudávamos. Era uma mulher de fora do vilarejo, e ela rapidamente ganhou nossa amizade e carinho, como todas as professoras.

Aos poucos fomos conhecendo-a melhor, e ela a nós, alunos e pais de alunos.

E, com o consentimento de nossos pais, em ocasiões fora dos horários de aula, ela nos informou ser da Igreja Adventista do Sétimo Dia e que desejava nos dar um curso bíblico, se desejássemos. E eu e meu irmão mais velho fizemos esse curso bíblico, que era na verdade um conjunto de aulas escritas em folhetos, com perguntas e respostas ao final, de forma que após cerca de trinta folhetos o curso estava concluído. Fazíamos cerca de uma lição por semana e ao final teríamos uma Bíblia de presente. Meu irmão iniciou o curso primeiro que eu e ganhou a sua Bíblia. Eu terminei o curso, mas a minha Bíblia não chegou. Eu fiquei aborrecido e desconfiado daquela professora que prometia e não cumpria suas promessas, de forma que deixei o assunto de lado e não mais me interessei pela Igreja Adventista. Logo mudamos de cidade, eu saí de casa e perdi o contato com essa professora.

Mas meu irmão e minha mãe, mais tarde, se converteram à Igreja Adventista e de certa forma essa professora passou a ser uma amiga da família. Minha compreensão de que duas Bíblias na mesma casa era um luxo caro e que a palavra divina era recurso escasso a ser melhor distribuído fez com que eu entendesse a razão de eu não ter ganhado minha própria Bíblia. E depois eu acabei tendo a minha Bíblia por outros meios.

De toda forma, o estudo bíblico me ajudou à época a entender certas coisas que eu não fazia ideia que poderiam ter importância.

Primeiro, que do ponto de vista estritamente religioso, a Bíblia é um livro sagrado, e tem sua origem no trabalho escrito de homens inspirados por Deus. Portanto, a Bíblia não contém erros. E, se ela não contém erros, então ao crermos nela necessariamente passamos, por lógica, a crer em coisas que estão escritas nela. Do ponto de vista do tema deste blog, a conclusão mais assustadora que podemos chegar a partir dessa afirmação, a de que a Bíblia não contém erros, é a de que existe um Deus, mas também existe um inimigo de Deus, Satanás, e que só podemos descartar esse inimigo se tomarmos a Bíblia como correta parcialmente, isto é, que ela não foi inspirada por um Deus perfeito. 

A existência de Satanás torna tudo na vida mais complexo, misterioso e difícil.

Segundo, que por mais que haja diferentes interpretações bíblicas, há alguns pontos bastante assentados com relação ao homem e sua alma, ou espírito, e a sua morte. Assim, algumas doutrinas religiosas simplesmente não estão em conformidade com o que a Bíblia diz, e portanto, são doutrinas que precisam ser melhor entendidas e estudadas, porque, afinal, elas existem, possuem seguidores e não é razoável pensar que essas pessoas estejam erradas, ou sendo enganadas, ou tendo suas crenças apoiadas em entendimentos incorretos. A multiplicidade de entendimentos dá margem a pontos de conflito e esses pontos de conflito possuem implicações mais profundas do que a simples discordância de métodos ou práticas. Eles afetam as explicações de eventos reais que interessam a nós quanto a suas relações com fenômenos estranhos e suas causas e explicações.

De qualquer forma, os adventistas são reconhecidos como bons estudiosos da Bíblia e possuem muitos textos que tratam de temas afetos a este blog, incluindo a existência de Satanás e as explicações que dão para uma série de fenômenos estranhos que são registrados com alguma regularidade em diferentes fontes de informação. Não é o objetivo deste blog avaliar as teorias e dogmas adventistas. Apenas relato que foi através de um curso bíblico promovido por adventistas que eu particularmente tive uma melhor compreensão da Bíblia e que essa compreensão vai além do simples estudo de divergências teológicas entre os adventistas e e outras muitas vertentes cristãs. É o cuidado com as implicações de se adotar essa ou aquela interpretação bíblica que conta, e neste caso, repito, os adventistas estão em vantagem em relação a outros pontos de vista comumente aceitos, exceto, talvez, ao do catolicismo em relação aos critérios seletivos relacionados aos fenômenos estranhos, mas esse tema será motivo de maiores debates neste blog no futuro.

Por enquanto entendo adequado registrar essa experiência pessoal, porque ela está profundamente relacionada com eventos que vim a presenciar nos anos seguintes, os quais relatarei aqui neste blog, mas cujo entendimento ficaria prejudicado sem essa explicação prévia sobre as raízes de meu ponto de vista à época em que eles ocorreram. Isso não significa que eu ainda tenha esses pontos de vista, mas de qualquer forma eu os tive e eles têm suas origens e razões e isso importa para a correta leitura de textos vindouros deste blog.

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