Caso 21 - Obsessão macabra

 Eu disse neste Caso 6 que assisti a uma série de filmes de terror quando era criança, sobre vampiros, lobisomens e outros temas. Contei sobre um filme que achamos, eu e meus irmãos, insuportável de ser assistido até ao final, que era na verdade composto por três filmes menores em série, cada um com cerca de meia hora de duração. Assistimos apenas o primeiro por completo, e abandonamos o segundo perto do final. Não sei sobre o que era o terceiro, porque o medo fez com que desligássemos a televisão e fôssemos dormir, meio assustados com tudo aquilo.

Éramos crianças, mas os temas eram interessantes porque fugiam da temática padrão de vampiros e lobisomens.

O primeiro deles era sobre uma mão amputada de um braço, e que retornava para se vingar de seu dono, que a amputara. A mãozinha assassina é hoje uma figura cômica que aparece na Família Adams, mas nesse filme ela se mostra tenaz, inteligente e bem sucedida. De qualquer forma, o tema da amputação me pareceu sinistro e triste. Fazia-me lembrar de um outro acidente, este real, que narrarei em um outro momento.

Já o segundo filme era sobre um homem muito rico que tinha medo de ser enterrado vivo, e que para poupar-se desse triste destino, preparou-se com muito cuidado para evitá-lo, usando de muito dinheiro, engenho e bom gosto.

Esse homem tinha uma espécie de doença genética e familiar que se constituía em se cair aparentemente morto do ponto de vista médico, para depois se acordar, mas em um momento muito tarde, já enterrado, de forma que se acabava morrendo de fome, sede, pânico e desespero selado dentro de um caixão sem poder ter a ajuda de ninguém. Somente após uma exumação acidental é que se saberia que aquele corpo não estava em uma posição normal de um cadáver que foi decomposto regularmente, mas em uma posição de quem se debateu e, portanto, fora enterrado vivo. Exumações posteriores confirmaram outras ocorrências parecidas e constatou-se então que a falsa morte era uma forte possibilidade naquela família rica, embora estranha. 

Nosso personagem principal era um homem cauteloso. Rico, preparou um sepulcro amplo e luxuoso, com diversos mecanismos por meio dos quais poderia sair do local e retornar à sua vida normal depois do susto de acordar em um caixão, que providencialmente não estaria de todo lacrado, embora estivesse fechado com pregos. Além disso havia mecanismos de auxílio à saída, e, caso tudo falhasse, havia por fim uma linda taça cheia de veneno, para dar fim rápido a seu desespero e sofrimento.

Mas as coisas não se deram tão bem como ele imaginava, ao menos em sonho.

Uma noite ele sonhou que morria, era enterrado, mas acordava algum tempo depois, para seu desespero, confirmando ser ele mais uma vítima da sinistra doença familiar. Mas não sabemos quanto tempo se passou entre a sua morte e seu despertar dentro do sarcófago. Imaginamos, e ele também, que tenha se passado um tempo não muito longo, algo entre dois ou três dias, porque houve tempo para a preparação do corpo, o velório e o enterro, o que em geral demanda dois ou mesmo três dias. Então, ele tinha esse tempo em mente quando acordou, e nós, a audiência do filme, também. Sendo assim, bastaria usar os mecanismos de salvamento previamente dispostos e em poucas horas ele estaria de volta a sua vida normal, a sua casa e a sua rotina, esperando a morte real chegar em algum momento em um futuro incerto.

Mas não foi o que aconteceu no sonho.

O tempo entre a morte e o despertar fora longo, muito longo. Ele tentou um recurso, mas não funcionou. O caixão estava lacrado, o martelo que havia dentro estava com o cabo apodrecido, mas mesmo assim ele conseguiu ao menos sair do caixão. Mas, embora os mecanismos que poderiam ajudá-lo a baixar uma escada para se sair pelo teto do sarcófago ainda estivessem onde deveriam estar, eles eram acionados por uma bela corda vinda do teto. Ao ser puxada, a corda simplesmente se esfarelou rumo ao chão sem acionar a escada salvadora. Isolado, gritou, mas obviamente não seria ouvido de sob as pedras da cripta. Seu último recurso agora era o veneno. E ele foi firme em rumo à taça sobre uma bela bandeja em uma coluna de mármore lindamente esculpida próxima ao caixão. Morreria envenenado, ao menos, mas morreria de verdade.

Ao tomar a taça, no entanto, onde fora parar o líquido em seu interior? Dentro, restara somente vermes se contorcendo, incapazes de matar alguém, gerando somente repulsa e nojo.

Ele iria morrer de fome, sede e desespero, apesar de seus planos bem elaborados e de seu dinheiro.

Mas então ele acordou do sonho.

E eu e meus irmãos decidimos que não gostaríamos de saber se ele iria morrer de verdade, ou se morreria, mas despertaria para sofrer em vida o que sofrera em seu sonho premonitório, ou se morreria, mas despertaria a tempo de ter seus mecanismos funcionando, ou se ele mudaria seus mecanismos para não falharem como falharam no sonho, ou se algo diferente disso tudo aconteceria. Não queríamos saber como ele morreria. Aquilo era demais para nós.

O filme chamava-se Obsessão Macabra.

E era mesmo, ao menos para nós, crianças, por volta de 1980.

Nunca antes deste relato procurei saber sobre que filme é esse, quem o escreveu, quem eram os atores, que ano foi dirigido e gravado, e, mais importante, como ele termina.

Prometo que tentarei saber o máximo possível sobre ele e postarei os achados de minhas pesquisas aqui, neste blog, em um momento qualquer no futuro.

Esse foi um filme que me fez ficar longe de filmes de terror por pelo menos dez anos. Depois, perdi o medo e voltei a frequentar as salas de filmes de terror e a ver os filmes e seriados na televisão, mas esse momento será discutido aqui também em breve.

Você já viu esse filme?

Você já desligou a televisão ou saiu de alguma sala de cinema com medo de assistir um filme até ao seu final?

Conte-nos sobre suas experiências e as razões que o levaram a sentir tanto medo.

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