Caso 48 - Mengele

 Caso 48 - Mengele


Eu sempre gostei de ler. E uma vez que se gosta de ler, todo livro é quase sempre bem-vindo.

Um dia, por volta de 1984, quando eu era apenas um garoto, fui até o armazém do vilarejo onde morava para comprar alguma coisa. Era uma tarde comum e ensolarada. Aquele armazém sempre pertencera a uma família muito conhecida, mas que acabara vendendo-o, não fazia muito tempo, para uma outra família da cidade vizinha. E não sei por qual motivo uma prima minha por linhagem paterna, filha de uma tia, irmã de meu pai, bem mais velha, adulta já, estava por lá, conversando com alguém daquela família nova no vilarejo, que passara a morar no casarão que tinha o armazém na parte da frente.

Minha prima sabia que eu era um menino que gostava de ler. Ela me olhou e disse que tinha um livro por ali, e que talvez eu gostasse de lê-lo. E pegou de algum lugar próximo um livro de capa dura, de tamanho normal, mas com uma capa azul escura, cinza ou alguma cor obscura parecida. Era um livro velho, mas em razoável estado de conservação. E tinha um título pouco chamativo sob o fundo escuro, mas bastante perturbador: ele se chamava "Os médicos da morte". Ela disse que era um livro para adultos, mas que se eu o quisesse ler podia fazê-lo. Depois eu poderia devolver o livro, mesmo que não o lesse ao todo. Eu concordei com a ideia, embora não me parecesse um livro muito divertido. Naquela época eu lia de tudo, mas principalmente livros de aventuras infanto-juvenis e os livros didáticos. Nunca lera um livro sério para adultos. Nem sabia se seria capaz de lê-lo. Mas concordei com a ideia. Levei o livro para casa e logo comecei a lê-lo.

Era sobre Auschwitz e os médicos nazistas que trabalharam nos diversos campos de concentração que compunham o enorme complexo de extermínio que os alemães haviam construído na Polônia ocupada para dar fim aos judeus.

Eu gostava também dos livros de guerra, mas mais principalmente das revistas vendidas em bancas de jornais que falavam sobre aviões e armas de guerra em geral. Como não havia bancas de jornal no vilarejo, eu tinha algumas delas que comprei em bancas de outra cidade e pelo correio. Mas livros eu não tinha nenhum que tratasse sobre guerras. Como o tema do livro sobre os médicos nazistas era parte do contexto da Segunda Guerra Mundial, acabei gostando e li o livro até o fim.

O autor, Phillip Aziz, escrevera o livro na década de 60 como uma forma de denúncia contra as atrocidades dos nazistas em geral, mas mais especificamente contra os médicos dos campos de concentração que realizaram experiências em seres humanos de forma antiética e contra todos os princípios universalmente considerados sagrados pelos praticantes da Medicina de antes dos nazistas, e ainda hoje em vigor. Aquela leitura me pareceu dura, mas eu tinha quase quinze anos. Não era tão criança assim para achar que o ser humano era somente fonte de bondade. É certo que parte dos relatos do livro me deixaram consternado. Certas experiências pareceram de uma crueldade difícil de imaginar que poderia existir em seres humanos. Até então eu não sabia da existência de psicopatas e outras pessoas portadoras de distúrbios mentais capazes de levar a esses tipos de atos. Ainda assim, tomei o livro como um aprendizado sobre o potencial de maldade que pode haver em seres humanos, ainda que seja por parte de pessoas aparentemente boas e educadas.

Li o livro em um impulso só. Depois devolvi-o à dona, como combinado.

Alguns anos depois, um ou dois anos, ouvi o boato na televisão de que encontraram o médico Josef Mengele, o mais terrível dos médicos nazistas, aqui no Brasil. Mas ele já estava morto. Encontraram seu túmulo e iniciou-se uma série de reportagens na mídia relembrando os horrores da guerra e dos campos de concentração, e o papel que Mengele desempenhou nesse triste capítulo da história mundial.

Houve reconstruções faciais e posteriormente exames de DNA, uma novidade na época, ao final do Século XX. Era dele mesmo os restos mortais e a justiça não fora feita a tempo. Ele tomara o Brasil como seu refúgio seguro e viveu décadas por aqui sem ser perturbado. Morreu na praia, se divertindo.

E aos poucos não se falou mais no assunto.

Todos sabem do Holocausto, embora haja brigas políticas entre judeus modernos que vivem em Israel e seus inimigos e vizinhos árabes, palestinos, iranianos e muçulmanos em geral que por vezes insinuam que não houve, ou não houve da forma como e oficialmente narrada a história do Holocausto tal qual o conhecemos.

Esse assunto deixou de ser um ponto de interesse para mim por longos anos. Já adulto, li de tudo, mas também li mais sobre a Polônia e sua ocupação, seus campos de concentração, vi vídeos sobre Auschwitz, aprendi sobre outras dezenas de campos espalhados pela Alemanha e outros locais na Europa, campos de concentração nos Estados Unidos, na China e na Rússia soviética. Esse tema, no entanto, em razão do livro que li, sempre me pareceu doloroso e triste, de maneira que nunca me aprofundei nele.

Mas então um dia, alguns anos depois, alguém, uma outra prima, em um outro contexto, me ofereceu um outro livro.

Mas então estamos indo rápido demais. A história desse segundo livro está intrinsecamente ligada ao primeiro, mas essa segunda história merece um texto próprio. E a ligação entre os dois livros merece um terceiro texto, porque, afinal, conspirações são coisas naturalmente complexas.

O que pergunto aqui, agora, a você, leitor, é se você já conhecia ou não Josef Mengele. Se não, pesquise um pouco sobre ele na Wikipedia. Se sim, fale-me sob como tomou conhecimento dele e quando isso acorreu. Qual foi sua impressão sobre o tema? E, finalmente, fale-me sobre qual a possível relação dele com alguma teoria da conspiração que você já ouviu falar ou que você mesmo possa conceber sem o auxílio de ninguém, simplesmente com base no que sabe sobre o caso.

Use esse blog e seu formulário de comentários para compartilhar o que pensa sobre o assunto. Falarei mais sobre ele, mas não agora, como disse acima.

Conspirações são coisas complexas.

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