Caso 40 - O cemitério no morro

A mente humana é surpreendente. O presente caso ocorreu comigo e não canso de me surpreender com ele, embora haja explicações racionais e para um cético ele pareça banal. No entanto, o narrarei, porque pode ser de interesse para pessoas não tão céticas ou apenas curiosas.

Quando eu era menino, com seis ou sete anos, não me recordo exatamente a idade, eu tive um sonho interessante. Afinal, sempre há alguns sonhos que são mais interessantes que outros, e alguns se fixaram em minha memória ao longo dos anos. Este foi um deles.

Penso que se passamos cerca de 8 horas em média dormindo todos os dias de nossas vidas, e se parte dessas 8 horas são ocupadas com sonhos, então teríamos quase tantas histórias interessantes para contar sobre nossos sonhos quanto temos para contar sobre a nossa vida normal se, e apenas se, nos recordássemos de grande parte de nossos sonhos. No entanto, quando acordamos pela manhã, raramente um sonho é digno de atenção, se é que é sequer lembrado. Então, recordar-se de um sonho sonhado aos sete anos quando se está com 35, 40 anos de idade, é um feito da memória humana que parece merecer melhor atenção dos psicólogos. Claro, lembranças da infância são comuns, mas não sei quanto a sonhos.

Recordo-me de poucos sonhos da infância, o que é normal. E mais: não fico pensando sobre esses sonhos. Eles ficam dormentes, latentes em nossos cérebros e o trazemos à consciência somente se fizermos um esforço de rememoração. Do contrário, eles ficam lá, dormentes. Mas, se algo em nosso dia a dia os faz surgir por um motivo ou outro, então sabemos que essas lembranças são de sonhos que sonhamos realmente e não é uma falsa lembrança, uma espécie de déjà-vu que não sabemos a origem. Sabemos com toda a certeza que já sonhamos aquilo que foi despertado de nossa memória infantil.

Esse processo de rememoração ocorreu comigo, e de maneira surpreendente, por volta do ano de 2002 ou próximo disso. Também não me recordo a data correta porque na época isso me pareceu curioso, mas não digno de nota. Mas, de qualquer forma, entre o sonho e a rememoração decorreram certamente ao menos 25 anos de intervalo. Não é pouco tempo.

Eu estava em uma viagem de férias e fui de carro para o Sul do Brasil. 

Em determinado momento, entre uma cidade e outra, entrei em Joinville, em Santa Catarina. Uma cidade que jamais estivera antes e da qual nada sabia especificamente. Naquela época não haviam os recursos do Google Maps e o Street Views, de forma que eu não sabia de nada sobre a cidade, exceto pelo mapa rodoviário em papel, que mostrava alguns pontos básicos, como sua localização junto ao mar, algumas rodovias e mais nada.

Depois de alguns passeios pela cidade, acabei pegando uma avenida qualquer que me levou até uma parte da cidade onde há um morro cercado por muros e dentro da área dos muros, há um cemitério. Da avenida eu podia ver o morro tomado por túmulos por todos os lados. Apesar de não ter medo de cemitérios, aquela visão me pareceu bastante impressionante. Os cemitérios em geral ficam em áreas planas.

Mas o que mais me impressionou foi que eu já havia visto algo muito parecido com este local antes. Foi em um sonho de infância. Como disse, poucos sonhos de infância se fixaram em minha memória de adulto, mas este, de um cemitério em um morro, foi um deles, e dos mais vívidos e impressionantes. Eu sempre lembrava desse sonho mesmo antes de ter ido a Joinville, mas quando vi um cemitério de verdade em um morro, aquilo me pareceu ainda mais impressionante, porque, embora os detalhes dos sonhos não são assim tão definidos quanto na vida real, ainda assim eu tive uma sensação de déjà-vu

Não é exatamente que eu tivesse tido uma premonição de um acontecimento vinte e cinco anos antes dele ocorrer de verdade. Se fosse uma premonição, então qual a utilidade dela em se apresentar tão cedo, sem conexão local e temporal alguma com o fato real?

Mas, sendo a mente capaz de gerar imagens infinitas, porque gerar a imagem logo de um cemitério em um morro e não outro, em outro lugar? Lembro que a grande força de fixação desse sonho estava exatamente na presença ostensiva de centenas de túmulos sobre túmulos a perder de vista em torno do morro, não um morro muito baixo, nem muito alto, nem muito grande, mas não tão pequeno. É essa a sensação que qualquer pessoa normalmente tem quando vê o cemitério de Joinville. Ele é assim, nem muito alto, nem muito baixo, nem muito grande, nem muito pequeno, perfeito para conter o cemitério. 

Certamente há muitos milhares de cidades no mundo e praticamente todas possuem cemitérios. Certamente há outras cidades com cemitérios em morros como em Joinville, mas não sei dizer quais são essas cidades, nem como são esses cemitérios. Certamente não deve ser difícil encontrar outros cemitérios em morros parecidos com o de Joinville.

Mas por que minha mente infantil se enveredou por gerar um sonho dessa natureza? Em que imagens se baseou para gerar algo que eu conscientemente nunca tinha visto?

Será que meu subconsciente simplesmente processou informações sobre a natureza dos relevos, das cidades e dos cemitérios e chegou à conclusão de que poderia haver cemitérios em morros e gerou um sonho somente para provar que era um acontecimento viável e ao mesmo tempo impressionante de se ver?

Não sei, pode ser que tenha sido isso.

Se você nunca viu um cemitério em um morro, que acha de ver o de Joinville?

Ele está aqui. Examine-o no mapa, percorra-o por suas ruas laterais. Pense nele em um sonho.

Diga-me depois aqui nos comentários o quê achou do local?

Somente como observação, quando passei por ele de carro, a entrada, onde hoje há uma ampla construção de concreto que, presumo, sejam para jazigos verticais, não existia. Ele foi construído posteriormente.

Você já teve um sonho aparentemente premonitório interessante como este?

Conte-nos também nos comentários.

Ficaríamos felizes em conhecê-lo.

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