Caso 36 - Homúnculos

 Minha mãe sempre morou em locais próximos aos rios.

Na região onde nasci, como em muitos lugares no mundo, há muitos riachos e córregos, que se juntam e desaguam em um rio maior. Foi em torno deste rio maior, que corta uma parte do Brasil ao longo de seus quase 500 km de extensão, que a presente história se desenrola.

Um rio é um ecossistema complexo. Nele vive centenas, talvez milhares de espécies animais. Peixes, insetos, mamíferos, crustáceos. Isso não é segredo para ninguém, mas como em qualquer outra cultura do mundo, também há nele os animais mitológicos, as sereias, botos, serpentes, dragões, polvos e tudo o mais que a imaginação humana é capaz de conceber, tal como ocorre com os mares e oceanos.

Agora, minha mãe era uma menina ingênua por volta dos anos 1950. Era uma menina que não conhecia as lendas do mundo, e embora não conhecesse também todas as formas de vida natural existentes nos ecossistemas fluviais, sabia muito bem o que era um peixe, uma concha, um sapo e uma rã. 

Então, o que ela viu algumas vezes que julgou ser homúnculos?

É difícil imaginar que seres parecidos com humanos, mas medindo apenas alguns centímetros de altura, possam viver nas águas barrentas dos rios. 

Eram o quê, então, os seres que, quando vistos e surpreendidos por humanos normais, rapidamente se jogavam nas águas mais próximas e sumiam sem deixar vestígio?

Sapos, ou rãs, dirão os leitores mais afoitos, porque, afinal, ao saltar uma rã ou sapo estica pernas e braços de forma que poderia se passar por um humanoide buscando fuga, mas mesmo uma criança seria tola demais se confundisse um sapo ou rã com um ser humano em miniatura.

Quão tola era minha mãe naquela época? Nunca vira um sapo, um animal tão comum na beira de um rio, a ponto de confundi-lo com um humanoide? Não creio que ela fosse assim tão tola.

Eles, os humanoides, ou homúnculos, eram vistos junto às margens, às vezes sobre árvores caídas, ou na beira de barcos, canoas ou botes. Eram vistos durante os dias, mas dificilmente ou nunca durante as noites, pela razão óbvia de que eram pequenos e difíceis de serem vistos mesmo durante o dia. No escuro, como saber se o som de um objeto caindo na água é um sapo, uma rã, um peixe ou mesmo um fruto caindo de uma árvore próxima? Não, isso não significa que eles não poderiam ter hábitos noturnos, se existissem de fato. Mas somente um bom farolete ou lanterna e muita sorte para se imaginar surpreendendo um deles à noite. Ao menos minha mãe não relatou nenhum avistamento noturno.

Era durante as manhãs que eram vistos. Surpreendidos. De alguma forma, seja o que for que saltasse na água, aquilo era pego de surpresa, mas não sem uma reação imediata. Nunca foram vistos correndo em chão firme, nas estradas, trilhas ou quintais próximos. Era como se eles morassem na água e por algum motivo, gostassem de passar alguns momentos ao ar livre, mas sempre muito próximos de seu habitat natural, de forma a não correr riscos desnecessários. É como se simplesmente quisessem tomar um pouco de sol ou respirar a brisa fresca das manhãs.

Mas isso foi a muito tempo atrás.

Minha mãe não foi certamente a única a ver esses seres. Nem os rios brasileiros são os únicos que são fontes de relatos a respeito de homúnculos e outros seres não convencionais avistados ao longo dos séculos mundo afora.

É certo que romances como Gulliver despertaram a curiosidade de milhões de pessoas também mundo afora, de forma a estimular a imaginação de crianças e adultos, mas não seria o inverso? Não seriam os relatos de pessoas reais a fonte de imaginação da qual Jonathan Swift se serviu para criar a estória de ficção que encantou e encanta o mundo a tanto tempo?

Não sei.

No mundo moderno, recoberto de câmeras de vigilância e de celulares, vez por outra surge algum vídeo alardeando ter pego de surpresa algum ser magro e curvado entremeio a árvores e galhos secos. E alguns vídeos mostram sereias, monstros nas praias e pedras junto ao mar. É certo que tudo pode ser mentira, simples manipulações de imagens digitais, mas por que tantas pessoas se enganam com a hipótese da existência de homúnculos?

Os vídeos modernos tentam associar o fenômeno dos homúnculos aos extraterrestres. Essa associação é óbvia, implicando na hipótese de que seres de outros planetas poderiam ser menores que nós, humanos, mais magros, mais frágeis, ou capazes de se camuflarem por meio de poder tecnológico ou natural, como no famoso filme Predador. 

Mas os homúnculos antigos poderiam ser entendidos como seres naturais, como os liliputianos da estória de Swift. No caso dos relatos de minha mãe, eles seriam apenas uma espécie primitiva de seres humanoides, como um mico, um pequeno macaco, que morariam nas águas, ou mesmo em terra, mas capazes de nadar e desaparecer da vista de seus possíveis predadores como o fazem outros mamíferos fluviais, como lontras, doninhas ou ariranhas. Seriam apenas um ramo exótico de mamíferos, existentes em pequeno número e em pouquíssimos habitats, como ocorre hoje com alguns tipos de animais sob ameaça de extinção.

Não creio que minha mãe tenha se enganado muito na descrição do que viu.

Esse primeiro relato serve de exemplo para outros, que certamente estão registrados, e para outros ainda que ocorrerão em um futuro não muito longínquo, porque os seres humanos estão em todos os lugares agora e sempre com alguma câmera nas mãos.

Não seria surpresa se algum novo vídeo trouxesse algo mais significativo do que uma mera manipulação de pixels feita por um adolescente amador tentando ganhar algum trocado no Youtube com o afluxo de visitantes curiosos com a sua capacidade de manipulação. Não espero um homúnculo, mas tenho alguma esperança de explicação, tal como "é um urso despelado", ou "uma nova espécie de lagarto", ou ainda "um mico capaz de nadar".

Quem sabe?

Nem tudo que é estranho é necessariamente mentira e, contrariando Carl Sagan, talvez nem todo acontecimento extraordinário demande necessariamente uma explicação extraordinária. Talvez seja somente mesmo o caso de um homúnculo ser "apenas um peixe com pulmões além de guelras".

Você já viu ou pensou ver algum homúnculo na beira de algum rio, lago, praia, mar ou mesmo em terra firme?

Se sim, nos conte sua história. 

Ficaremos felizes em lê-la aqui nos comentários deste blog ou em outra fonte de sua preferência.

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