Caso 28 - Padre B.

O presente caso trata dos supostos milagres que são atribuídos a forças não humanas, tais como a santos e deuses, espíritos e forças do mal.

Já registrei os casos 7 e 19 sobre o tema, e agora é o momento de conhecermos um pouco do que sei sobre o assunto falando sobre Padre B. e seus supostos poderes miraculosos.

Padre B. nasceu na Itália, em uma das muitas vilas e cidadezinhas centenárias, e posteriormente migrou para o Brasil. Não sei porquê nem como acabou indo servir à Igreja Católica na paróquia da cidadezinha onde eu morava, no interior do país. Não cito, por questão de preservar a privacidade minha e dos envolvidos, inclusive o Padre B., nomes verdadeiros de pessoas e lugares que possam identificar seus titulares. A razão está neste texto.

Não sei se já era padre quando chegou ao Brasil. Conheci-o já com a idade de mais de cinquenta anos. Tinha um carisma incomum, era animado, fumava e bebia dentro dos costumes da época, moderadamente, e alimentava com fartura a sua saliente barriga de padre. Ele morreu em meados da década de 90, suponho, porque mudei-me da cidade e perdi informações sobre ele. Sei que está morto porque o fato foi comentado posteriormente e vi seu túmulo no cemitério anos depois. Ele é lembrado com carinho por todos na cidadezinha, merecidamente.

O que talvez muitos moradores do local não saibam é que em um determinado momento de sua vida como religioso, creio que entre as décadas de 50 e 60 do Século XX, ele aventurou-se em uma atividade que não é incomum nos padres, mas também não é incentivada. Pelo contrário.

A Igreja Católica há séculos parece ter desestimulado qualquer ação de seus membros nesse sentido, o de agir como curadores, ou curandeiros, milagreiros ou obreiros de seus fiéis, ou então como exorcistas não qualificados. Esse desestímulo tem suas razões, embora não trataremos delas agora. São razões interessantes e merecem ser estudadas, mas não agora.

É certo que na época em que ele atuou como algo mais que um simples padre eu ainda não havia nascido. Então sei do que ocorreu por meio de meu pai, que era então um rapaz e tomou conhecimento parcial dos acontecimentos que narro.

Meu pai comentou comigo em um dado momento, em uma conversa cujo motivo de origem não me recordo, que Padre B., assim como outros famosos padres milagreiros, também era um homem poderoso.

Novo na região, ele começou a, digamos, tentar curar pessoas com problemas diversos que o procuravam em busca de ajuda. Certamente que não somente em busca de ajuda espiritual, mas também ajuda médica, como é comum ocorrer entre pessoas de todos os níveis culturais e econômicos que costumam professar alguma fé. 

Aparentemente Padre B. foi relativamente bem sucedido, porque sua fama se espalhou rapidamente e dentro de um tempo não muito longo as pessoas de outras localidades começaram a aparecer na cidadezinha em busca de seus poderes. Meu pai lembrava-se que em um determinado momento, ônibus cheios de fiéis começavam a chegar na cidade, a estacionar na região da igreja central e da casa paroquial, onde morava Padre B., e esse movimento acabou sendo interessante para a comunidade local do ponto de vista turístico, porque essas pessoas todas acabavam sendo fontes de renda extra para o comércio circunvizinho. Havia até a esperança de alguns de que a cidade viesse a ser uma fonte permanente de atração para romeiros, como a cidade de Aparecida o era e ainda é até hoje, dentre outras não tão famosas.

Mas então a fama de Padre B. chegou aos ouvidos de seus superiores na hierarquia da Igreja Católica e ele foi admoestado a encerrar suas atividades milagreiras sob pena de sofrer as consequências das regras disciplinares da milenar instituição. 

Padre B. obedeceu à cúpula da Igreja e logo a cidade e o entorno da igreja voltaram ao ritmo normal das pacatas pequenas cidades comuns do interior. Os moradores lamentaram, mas compreenderam as razões da decisão e não se falou mais nisso. Assim, os novos fiéis que cresceram depois desses eventos nada sabiam desse episódio e viam Padre B. como apenas um padre bonachão e tranquilo, sem saber de seus supostos poderes.

O que há de interessante nisso tudo? Onde entra o anormal ou o paranormal?

Certo. Meu pai não presenciou, mas relatou dois casos muito estranhos, dos vários que aparentemente ocorreram durante o período de atividade milagreira de Padre B.

Um deles refere-se a uma moça, de fora da cidade, uma visitante, que alegava ter muita dor de estômago e aparentemente não sabia a causa e não obtinha cura. Certamente não estamos falando de tempos modernos, quando então a medicina pode quase tudo, embora nem sempre nos salve. Essa moça certamente não teria passado por, digamos, uma moderna endoscopia, para se sondar algum problema estomacal. Do contrário, talvez seu problema pudesse ser identificado. Mas como não fora tratada pelos métodos modernos da medicina, Padre B. se encarregou de auxiliá-la e, não sei por qual meio, se simplesmente orando, ou realizando algum procedimento parecido com um exorcismo, induziu a moça a vomitar. 

E ela vomitou um bolo de fios de cabelo, em uma cena digna de um filme do tipo O Exorcista.

Sim, sabemos hoje das compulsões e do impulso irresistível que certas pessoas têm em comer cabelos e pelos, ou outras coisas estranhas, mas não naquela época. De certo que a cena foi assustadora para os espectadores naquele dia.

E um segundo caso também guarda semelhança com o primeiro, exceto que agora tratava-se de um homem também com problemas de estômago, dificuldades de cura e dúvidas sobre as causas.

Mais uma vez Padre B. agiu e desta vez o homem vomitou um longo e horroroso prego enferrujado, daqueles usados para se pregar vigas de ferro e aço nos dormentes de madeira das ferrovias. 

Sim, as pessoas podem também engolir pregos enferrujados, mas então já estão indo um pouco longe demais.

Essas histórias soam estranhas.

Elas nos remetem a outros problemas. Elas parecem se voltar mais para aquilo que alguns chamam de interferência do Mal nos corpos das pessoas, ou interferência de seres não humanos no corpos das pessoas. Essas histórias nos fazem lembrar que o ser humano é complexo e pode se auto infringir danos os mais diversos, pelos motivos também os mais diversos, mas que por vezes parece-nos concebível, apenas teoricamente ao menos, a hipótese de que nem sempre são as próprias pessoas que se auto agridem, ou, pelo menos, que não o fazem conscientemente.

É certo que toda história deste tipo traz exageros, distorções e enganos, mas as duas histórias em si não deixam de ser merecedoras de alguma atenção nossa.

Sei que certamente há casos de milagres e exorcismos muito mais interessantes e inacreditáveis, mas ainda assim deixo esse registro para que os incluamos entre os muitos já existentes, como um histórico a ser cotejado com casos parecidos ou correlacionados.

Se você sabe de alguma história semelhante, informe-nos.

Vamos ter curiosidade em lê-la.

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