Caso 27 - Televisão

 Foi aproximadamente por volta de 1975 ou 1976 que ela, a televisão, apareceu um dia em nossa casa. Meu pai a comprou em algum lugar que não faço ideia, porque não havia lojas de eletrodomésticos no vilarejo onde morávamos, e as televisões não eram vendidas usadas como são os carros. Só era possível comprar televisões novas. 

Ela era um caixote de madeira com um transformador de energia e um HS, como chamávamos, um aparelho que ajudava a sintonizar os pouquíssimos canais disponíveis. De trás deste HS, que era na verdade um VHS, saia uma fita de plástico com fios dentro que se distendia até a antena lá fora, prendida na ponta de uma vara de madeira e rodada de vez em quando para ajustar a sintonia de algum canal que não tivesse uma boa transmissão. As imagens eram, obviamente, apresentadas em preto e branco.

Aquele aparelho passou a dominar parte de nossa vida a partir de então.

Mas não muito. Estudávamos parte do dia e meu pai não gostava de muitos dos programas mais populares. Os programas de humor eram muito ruins e os bangue-bangues passavam uma vez por semana em uma noite tediosa qualquer. As novelas eram pouco atraentes para nós, meninos, e minha mãe também não se afeiçoou a elas. Quanto aos esportes, meu pai dava pouca atenção, e nós, meninos, gostávamos mais de jogar futebol na rua do que propriamente entender a lógica dos campeonatos e o cálculo de seus pontos. 

Depois, mudamos de cidade e acabamos ficando sem televisão.

Passamos vários anos na década de 80 sem ela.

E o tempo foi passando. Saí de casa e não tive interesse em ter uma delas até 1995, quando então elas já eram coloridas e já havia canais sendo transmitidos a cabo. Gostei das opções de canais de música e de documentários, mas eu tinha pouco tempo para isso. Comprei um videocassete e só ligava a televisão para ver filmes nos fins de semana. Depois vieram os CDs e com a pirataria deles acabou sendo quase inevitável comprar CDs de filmes a preço de banana, tantos filmes que de repente eu não tinha mais interesse em assisti-los, mesmo depois de tê-los comprado. A televisão simplesmente não era páreo para o apelo que o computador e a internet representavam para mim naqueles anos. Nos anos 2000 eu simplesmente tinha a mesma velha televisão de 1995, pagava a mensalidade dos canais, mas passava meses e meses sem a ligar. Lembro somente de uns dias mais afoitos de uso que foram os que se seguiram a 11 de setembro de 2001. Mas logo ela voltou a ser desligada e depois de várias mudanças de casas, acabei a jogando no lixo em 2012, porque ela não ligava mais e era um estorvo que tomava espaço desnecessariamente em minha casa. Já casado, minha esposa também não tinha o menor interesse por ela.

Hoje tenho um aparelho de televisão que não é muito grande, mas não ocupa muito espaço por ser de tela plana. Uso-a como monitor de computador e o videocassete, o leitor de CDs e as centenas de filmes estão encostados em uma prateleira qualquer. Não vejo um filme a muitos, muitos anos. Nem na televisão e nem mesmo no cinema.

Simplesmente não nos importamos com essa forma de entretenimento.

O que isso tem de importante e de que forma essa constatação se relaciona com o tema deste blog?

É que eu sou uma exceção. É muito difícil que eu venha a conhecer alguém que tenha o mesmo desinteresse por essa forma de entretenimento e informação. 

E mais: consigo perceber claramente quando uma pessoa nasceu, cresceu e vive em contato constante com a televisão. São pessoas que possuem traços comportamentais e de personalidade que parecem a mim como um padrão claro, difícil de ser escondido. Pessoas que não viveram longe da televisão como eu e alguns outros poucos viveram possuem uma espécie de comportamento e modo de pensar padronizado.

Estou sugerindo que um inocente aparelho eletrônico seja capaz de moldar comportamentos, pensamentos, gostos e desgostos de milhões de pessoas como se as mesmas fossem simples marionetes desarticuladas?

Não, mas quase.

Seria um exagero afirmar isso? Eu seria um maníaco conspiracionista quando suponho que a televisão é uma ferramenta de engenharia social?

Muitos dirão que sim.

Esse assunto é complexo e falarei mais sobre ele.

Engenharia social. Engenharia Social pela televisão.

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